domingo, 16 de agosto de 2020
Causos da Arabia II (Perdidos em Riyadh)
Causos da Arabia I (O maluco com a espada)
Gravidez e Parto na Arabia Saudita
Julia, minha filha mais velha, nasceu no Egito (tem uma publicacao antiga aqui no blog contando como foi essa experiencia). Lana, a cacula, nasceu na Arabia.
Ja sabia desde o inicio que queria parto cesarea e felizmente nao tive problemas quanto a isso. Tive sorte porque na gravidez da Julia eu mudei de medico algumas vezes por alguns motivos diferentes, mas na segunda gravidez a primeira obstetra que eu marquei consulta foi um caso de amor a primeira vez e foi reciproco. Quando Lana nasceu eu ja nao tinha uma medica e sim uma grande amiga, que me tratava como uma irma mais nova e dispensou a mim todo o carinho e cuidado que eu jamais imaginei encontrar em uma medica. Doutora Rehab Kamal, egipcia, linda, jamais vou esquece-la. 💗 Foram longos nove meses e dessa vez minha gravidez teve alguns contratempos. Com menos de vinte semanas eu tive um problema na placenta e precisei ficar quase a gravidez inteira em repouso (impossivel um repouso completo com uma crianca pequena em casa e sozinha, mas fiz o possivel e no fim tudo deu certo).
No dia da Lana nascer aconteceu um problema de ultima hora e e Dra. Rehab nao pode fazer minha cesarea, mas ela colocou um substituto a altura dela, o Dr. Ayman era o obstetra chefe da equipe e foi ele que fez minha cesarea. A mudanca de ultima hora me deixou um pouco chateada, mas nao insegura. O hospital onde eu fiz todo o pre-natal foi o Mouwasat Hospital, em Riyadh (tem uma publicacao antiga aqui tb mostrando um pouco desse hospital).
Se eu for comparar o hospital onde a Julia nasceu no Egito e o hospital onde a Lana nasceu na Arabia a diferenca eh enorme, gigantesca, gritante. O hospital no Egito, mesmo sendo particular, era bem simples. Ja o hospital na Arabia parece mais um hotel dos bons. Uma equipe maravilhosa, todos muito atenciosos e prestativos e nos nao pagamos quase nada por tudo isso, ja que o nosso plano de saude cobria quase tudo. Gente, eh uma realidade tao diferente do que conhecemos no Brasil, por exemplo. Os medicos, enfermeiras e grande parte dos funcionarios do hospital sao de outros paises asiaticos, principalmente as enfermeiras, acho que quase cem por cento sao filipinas e algumas poucas indianas.
Nos paises de ca nao existe muito essa cultura de na hora do parto a mae ter um acompanhante ali com ela, marido, mae ou qq outra pessoa...muito menos um fotografo. Geralmente aqui nao existe isso e eu nao ligo muito, na verdade, porque eh um momento tao tenso pra mim que acho que nem faria diferenca ter alguem. Nao sei explicar como me sinto, mas eh como se fosse uma solidao so minha. Aquele centro cirurgico enorme, varios profissionais, alguns que vc esta vendo pela primeira vez, eh meio tenso...Logo depois que Lana nasceu eu fiquei sozinha numa sala de pos-operatorio e acho que foi o momento mais solitario da minha vida. Ao mesmo tempo que eh algo muito especial eh tb um momento de conflitos e fragilidade.
Nao tenho muitas fotos pra mostrar, mas vou postar as que encontrei aqui.
A cirurgia foi otima, mas meu pos parto foi bem dolorido, diferente do da Julia, que eu nao senti absolutamente nenhuma dor. No Egito eu voltei pra casa no dia seguinte, assim que passou o efeito da anestesia. Da Lana eu fiquei tres dias no hospital. Quando voltamos pra casa subi tres andares de escada (o predio onde moravamos nao tinha elevador), acho que isso acabou comigo. Outro fato que tambem piorou minha situacao foi que no mesmo dia que voltamos pra casa a Julia fez uma danacao, enfiou um negocio no nariz e nos ficamos desesperados, Mohamed correu com ela pro pronto-socorro e eu fiquei sozinha chorando e imaginando que aquilo iria descer pro pulmao e seria necessario fazer uma cirurgia e eu ja tinha lido que isso eh muito arriscado. Imaginei as piores coisas, foi um pesadelo. Felizmente ela foi atendida rapidamente e o pediatra conseguiu retirar o objeto (uma perola). Mohamed pegou alguns dias de folga no trabalho pra me ajudar em casa, mas ele eh daquele tipo de marido que nao sabe onde fica nada e mesmo ele se esforcando pra fazer comida e cuidar da casa e da Julia eu fiquei logo sem paciencia pq ele toda hora me perguntava onde estava alguma coisa. Enfim, o fato eh que tive pouco repouso e muito stress e isso prolongou em algumas semanas meu processo de recuperacao e todo o desconforto de uma cirurgia.
A parte boa dela ter nascido na Arabia eh que eu tive um total de zero visitas. Gente, eu detesto visitas. Serio! Se eu ja nao gosto de receber visita estando bem imagine depois de uma cesarea. No Egito quando a Julia nasceu as mil pessoas que me visitaram foi o pior tormento da minha vida. Na Arabia eu nao tive ajuda, mas pra equilibrar tb nao recebi ninguem e isso foi um sonho!
Agora pra nossa familia ficar completa so falta um cachorro e as meninas pedem isso todo dia. Detesto quando me perguntam se nao vamos tentar ter um menino, eu respondo logo que nao, nao vamos. Eu sempre quis ser mae de menina e fui abencoada duas vezes, pra mim esta bom demais. Mohamed eh um paizao, ama as meninas, ele eh o amor da vida delas (mais ate do que eu), entao estamos muito bem e satisfeitos assim.