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sábado, 21 de junho de 2014

Dois Meses

Já se passaram dois meses desde que eu vim pra Arábia Saudita.
Bem, pode-se dizer que o parecer que eu tenho a fazer de Riyadh é mais positivo do que negativo. Creio que isso se deve ao tipo de pessoa que eu fui a minha vida toda, quieta e introvertida, e também graças ao meu preparo antes de me mudar pra cá. Foi uma decisão minha e eu tive as minhas razões pra aceitar essa loucura aventura. Eu vim preparada para o pior, mas acabei me deparando com muitas coisas bacanas que jamais imaginei que existissem aqui...
Pra começar, muitas das restrições que existem não fazem muita diferença pra mim, como por exemplo dirigir e andar sozinha pelas ruas. Eu nunca dirigi e mesmo que eu quisesse sair sozinha por aí não poderia, já que meu inglês é ruim e eu não falo árabe (aqui a maioria da população fala só árabe mesmo). Em li em vários lugares que as mulheres aqui não podem sair sozinhas na rua. Se existe uma lei, eu não sei. O que eu sei é que elas saem sim sozinhas. Eu já vi várias vezes mulheres andando sozinhas pelas ruas, mulheres sauditas. E também nos shoppings e parques. Algumas sozinhas e outras em grupos de amigas.
Eu ainda não me acostumei com a abaya, principalmente por conta do clima que é muito quente. Pra mim é um sacrifício sair do ar condicionado de casa e ir até o carro usando a abaya, o calor é de matar, até que o ar condicionado do carro esfrie eu me sinto como se estivesse dentro de um forno microondas sendo torrada. Isso sem falar que eu não sei andar direito com a 'bixona' preta, eu fico o tempo todo pisando na barra e tropeçando. Também não gosto do hijab porque me sinto feia. Qualquer pessoa que me veja andando por aí vai saber na hora que eu não levo o menor jeito com essas roupas, a abaya me deixa desengonçada e o hijab cai o tempo todo da cabeça eu não que não vou prender um monte de pano na cabeça num calor desse, só jogo lá e pronto!
Ainda não me acostumei, e talvez nunca vá acostumar, com as mulheres sauditas e seus niqabs. É muito chocante pra mim, eu me sinto realmente muito mal quando vejo essas mulheres cobertas dos pés à cabeça. É como se elas não fossem ninguém, como se não tivessem um nome, um rosto, uma identidade, uma história...é muito triste pra mim ver isso. Por esse motivo eu estou sempre evitando os lugares onde possa encontrar muitas delas. O choque pra mim ainda é como se fosse o primeiro dia.
Também não me acostumei e nem vou acostumar com o calor. Eu nasci no Nordeste, no Piauí, mas não é porque eu nasci no calor que eu tenho que gostar dele. Não gosto. O calor me deixa cansada, grudenta, fedendo e de mau-humor. Odeio!
Mas em compensação à tudo isso, eu já me acostumei com o silêncio da minha casa e com os passarinhos que vem cantar na minha janela toda manhã e final de tarde. Já me acostumei com o exagero daqui, com tudo grande, espaçoso e bonito. Me acostumei com as ruas largas e limpíssimas. Com as palmeiras que enfeitam essas ruas. Me acostumei com as luzes coloridas da cidade. Já me acostumei com a falta de ônibus nas ruas e com os milhares de carros, todos aparentemente novos, caros e bonitos, a grande maioria deles na cor branca, já que os automóveis dessa cor absorvem menos calor.
Me acostumei rapidinho a ter um certo conforto que nunca tive antes, a ter o meu próprio motorista particular lindo de viver que sempre ouve músicas e canta junto comigo enquanto dirige e a quem eu tenho o prazer de chamar de "meu marido". Nem preciso dizer que me acostumei a receber dele todo o amor e cuidado do mundo. Me acostumei a vê-lo chegar e correr para a porta para abraçá-lo e enchê-lo de beijos.
Também me acostumei a ficar sozinha e é um momento todo meu e da qual eu não abro mão. Eu simplesmente amo estar sozinha. Nunca vi tantos filmes como agora, tenho tempo para cuidar da casa, das unhas, da pele e do cabelo e ainda estudo inglês.
Me acostumei com o chamado pras orações e com a certeza de que nesses momentos todo o comércio fecha e eu também aproveito e paro pra fazer a minha oração, do meu jeito...


Aqui não tem bares, bebidas alcoólicas ou festas como no Brasil. Eu fico imaginando algumas pessoas que eu conheço vivendo aqui, iria ser um martírio, já pra mim isso não faz a menor diferença (nunca bebi e sempre detestei festas) e eu até vejo como um ponto positivo. Quem dera no Brasil fosse assim, muitas famílias não teriam tantos problemas por causa do álcool, muitos inocentes não teriam morrido devido à imprudência de pessoas alcoolizadas e irresponsáveis ao volante, enfim...seria uma maravilha!
E por falar nisso, eu ainda estou me acostumando com a segurança da cidade e com o índice de criminalidade baixíssimo, se comparado ao Brasil, pode-se dizer que é praticamente zero. Estou me acostumando com os carros que dormem na rua, e eu estou falando de carros tipo BMW, Audi, Lexus...carros que ficam a noite inteira na rua e simplesmente nada acontece. É até engraçado o quanto a cultura está impregnada em nós, vivenciamos tanto essa violência e insegurança no nosso país que acabamos sempre achando que seremos roubados. Toda essa segurança aqui se deve às leis rígidas e que são cumpridas, caso seja necessário, aqui não existem brechas, ninguém vai se arriscar a roubar um carro ou o que quer que seja e perder uma mão, isso acaba sendo um ponto positivo. E como eu sempre digo, pras pessoas honestas e que andam na linha tais leis não são um problema.
Infelizmente nunca vou me acostumar com a saudade que sinto do meu povo no Brasil. E sempre que penso o quanto estou longe me dá um calafrio...mas é a vida, sempre que fazemos uma escolha algo fica pra trás.
Resumindo: não tem como imaginar como é Riyadh até você efetivamente pisar aqui, mas o que posso dizer é que, pra mim, as compensações são maiores do que os sacrifícios.

Vou deixar esse vídeo que eu gravei do centro da cidade. Espero que gostem...bjo grande...


5 comentários:

  1. Que lindo, Ana isso proca que podemos ns adaptar a qualquer situação quando a escolhemos, quando a aceitamos e quando temos amor <3 Feliz por você !!

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    1. É verdade amiga...alguns sacrifícios valem a pena quando é por amor <3 obrigada pelo carinho, bjão

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  2. Oh amiga, eu também achava que a parte mais difícil seria a dstância do seu povo daqui, de nós :)
    Mas qnd Deus nos mostra o caminho a seguir, Ele nos dá toda força que precisamos!
    E estou esperando vc e Mohamed para uma visitinha! Farei Tapioca pra vc e Pavê de abacaxi pro seu habib! heheh
    Estarei sempre aqui, nunca se esqueça disso!
    Mil bjos e como sempre digo, Be Happy! <3

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    1. Eitaaaaaaaaa amiga, não fala isso não que eu vou hj mesmo kkkkkkkkkk
      Mas é verdade, somos seres adaptáveis, apesar das diferenças...e eu sempre fui meio sozinha, independente de estar cercada de pessoas ou não, isso era uma sensação minha, estar aqui com ele é muuito bom....
      Eu fico muito feliz por sentir a presença de vcs comigo, não física, mas eu sei o qt vcs torceram e o qt se alegram com a minha felicidade. De coração o meu muito obrigada e saibam q podem contar comigo sempre pro que for
      Mil beijos ;) <3

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  3. A recíproca será sempre verdadeira, vc sabe disso, né?
    E pergunta se não é chique ter uma amiga que mora nas arábias? kkkkkkk
    Adoooroooo!!! hhahahahah
    Mil bjos, querida! <3

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